O cenário religioso no Peru passa por uma transformação significativa, com um crescimento marcante das comunidades evangélicas, especialmente nas regiões rurais do país. Dados recentes divulgados pelo Instituto de Estudos Peruanos (IEP) revelam que 11,3% da população peruana se identifica como evangélica em 2025, um aumento expressivo em relação aos 8,4% registrados no ano anterior.
Esse crescimento contrasta com o declínio constante da Igreja Católica, que viu sua representação diminuir de 63,5% em 2024 para 60,2% em maio de 2025. A queda católica ocorre em um contexto de crescentes questionamentos entre os mais jovens e após escândalos envolvendo abusos em instituições tradicionais. Verónica Lecaros, teóloga da Pontifícia Universidade Católica do Peru, observa: "Muitos universitários não abandonam a fé por ateísmo, mas por desilusão com estruturas institucionais".
O fenômeno não é isolado. Há duas décadas, apenas 4,4% dos peruanos professavam o evangelicalismo, seguindo uma tendência continental observada no Brasil, Chile, Argentina e Guatemala. O avanço ocorreu principalmente em áreas rurais, onde as comunidades evangélicas estabeleceram redes de apoio social e espiritual, oferecendo respostas práticas às necessidades locais.
Paralelamente, nota-se uma reconfiguração do espaço público. Parlamentares evangélicos ampliaram sua atuação política, defendendo políticas familiares, proteção à infância, saúde pública e direitos das populações indígenas. Essa visibilidade reflete a capacidade de mobilização comunitária e a expansão da influência social além dos templos.
Outras mudanças significativas incluem a redução de seguidores de religiões não cristãs (13%) e o discreto aumento dos sem religião (12%), impulsionado principalmente pela juventude. Curiosamente, o número de agnósticos e ateus caiu de 2% para 1%. Especialistas sugerem que mesmo os desvinculados institucionalmente mantêm buscas espirituais, buscando versículos bíblicos que transformam provações em fortaleza espiritual em momentos de crise.
Apesar da concessão de cidadania peruana ao Papa Leão XIV, analistas como Cecilia Tovar, do Instituto Bartolomé de Las Casas, ponderam que o impacto de seu pontificado ainda não se reflete nas pesquisas: "Mudanças na percepção religiosa demandam tempo para aparecer em estudos quantitativos". A trajetória peruana confirma assim o dinamismo do campo religioso latino-americano, marcado por pluralidade e constantes reinvenções da fé.
